segunda-feira, 5 de maio de 2014

Melodias de desassossego

Vim aqui hoje com a ideia de entreter o pensamento, para que se desligasse do tempo que teima em não passar. Parece feito em câmara lenta. Parece composto por segundos gordos, opacos, com arestas que dificultam, que custam a escorrer pela estrada fora. Queria algo que me desviasse da atenção que todos os dias tenho que fingir. De me não ser. E já não lembro do último dia em que não olhei para o relógio. Avanço dois passos. Determinados. Determinada. Depois uma voz monótona que me puxa de novo para a rotina e para o desapego de mim. Esqueço-me numa fração de segundo do propósito do instante anterior. Sucumbo e volto invariavelmente à estaca zero. Ainda assim, na minha lembrança, visto-me de hibiscos brancos e sandálias douradas, rasas. Cabelos em desalinho. E sigo para perto do meu desassossego.

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