Estávamos
sentados lado a lado. Na esplanada ainda aquecida pelos raios de sol já gastos
da tarde. Intersectava-se ao longe uma televisão quadrada e antiga. Entre a
porta meio aberta do restaurante percebia-se que eram horas do noticiário. O
som não nos chegava nem tão pouco aquelas legendas em rodapé, tão ao jeito de estação
de televisão americana subitamente em voga neste nosso retângulo que por vezes
mais parece quadrado de ideias. Ao perceber quem estava na tela, desolhei… como
vem sendo hábito já. Perdi o interesse nas coisas deste país. Perdi o interesse
na sua (des)governação. Limito-me a estar por aqui, como um inquilino. Pago as
contas ao final do mês. Não espero nada. Não conto com nada. Sei que se houver
um cano para arranjar “lá por casa” e apesar de estar já incluído na renda,
terei de ser eu a mexer-me e a pagar, senão antes do “senhorio” se lembrar de
agir fico com a casa inundada e depois ainda irei encontrar uma entrelinha
perdida numa das mil cláusulas do contrato de arrendamento, onde sou obrigada a
suportar monetariamente danos de esta (e toda) natureza... Limito-me a isso e
só. Vou utilizando o espaço que arrendo, a valores que vão subindo e não se
podem questionar. Da janela lá de “casa” vejo o sol que, quase todas as manhãs pela
vidraça grande da cozinha, insiste a entrar trazendo alento, e do outro lado da
rua está marcado o x onde tenho o tesouro mais precioso de todos: a família.
Ainda assim, por vezes já penso que se calhar um dia destes ainda mudo de
“casa”…
É então
que me lembro do som que nos embala a todos os que partilhamos este “prédio”… o
sol que durante a tarde aqueceu as cadeiras de plástico vermelho já por ele
consumido. Ainda não temos imposto sobre a exposição solar… vai um dia
lembrarem-se disso… Na mesa um pratinho de percebes e 2 cervejas a borbulhar de
fresquinhas… olhei para ti, dei um pequeno gole que me deixou um bigodinho
branco no lábio e rapidamente esqueci onde moro e especialmente senhor na
televisão lá no fundo…